Mostra Panorama: Lilian Solá

“Não negociamos nosso direito à memória, nem como preto, nem como brasileiros”. Essa frase encontrada em um texto de posicionamento da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro) no contexto do incêndio de parte do acervo da Cinemateca Brasileira em São Paulo, em 2021, pode ser um lembrete sobre o que constitui boa parte do cinema negro brasileiro: o direito à memória e o de ver e de ser visto. Se há uma lacuna na história do cinema brasileiro é a da preservação, etapa fundamental para entendermos quem fomos, quem somos e quem poderemos ser enquanto nação. Não à toa isso acontece em um país que constrói sua história a partir de apagamentos e recortes, como é o caso da história da população negra brasileira. Se há caminhos que não ousam olhar para trás, há quem desloca o sentido do tempo e olha para o passado para ressignificar o presente e fabular o futuro. Há o tempo de sankofa e nele tempo-espaço se cruzam, permitindo um refazimento das histórias, do tempo e do mundo.

 Se  há um movimento de pontuar e consagrar nomes em detrimento de outros na história do cinema brasileiro, o pensamento negro nas escrituras de um cinema negro faz questão de lembrar e relembrar os processos que permitem com que continuemos a contruir memória e reconfigurar a linha temporal que escreve e apaga histórias. Além de partir de si para contar sobre o mundo, há um desejo de contar sobre o mundo a partir desses corpos-territórios que por si só são constituídos de memória pés, mãos, bocas, ouvidos. O corpo todo. Certa vez, li sobre uma diretora que, ao sofrer pelo falecimento de seu pai, sentiu necessidade de explorar as culturas afrobrasileiras e africanas durante a faculdade e assim começou a se aproximar do grupo Cachuera!, que tinha como rotina se reunir ao redor da fogueira e experienciar vivências da tradição negra popular do sudeste brasileiro como a congada, o jongo, a umbigada, o batuque, entre outras. Curiosamente, todas em referência ao corpo. O corpo como espaço de memória e de sagrado. Segundo ela, “com isso alimentei minha alma e tive fôlego para continuar na Universidade, a despeito de todo o eurocentrismo existente ali. Ainda não tinha um projeto definido, só sabia que queria povoar as telas do cinema e da TV com rostos negros. Muitos”.

  Estamos falando de Lilian Solá Santiago, cineasta documentarista brasileira, professora e pesquisadora que, ao aproximar seu desejo de memória presente, deslocou e aproximou seu corpo-território a outros saberes que permitiram que o fazer-cinema se tornasse um fazer-memória. Entrelaçando memória, identidade, cultura afro-brasileira e questões de gênero, é parte integral de uma historiografia do cinema negro brasileiro. Nesta IV edição do Griot, é a diretora que compõe a mostra PANORAMA com quatro filmes, sendo eles seu primeiro longa-metragem, co-dirigido com Daniel Santiago, Família Alcântara (2005), e três curtas-metragens, Balé de pé no chão a dança afro de Mercedes Baptista (co-dirigido por Marianna Monteiro, 2005), Eu tenho a palavra (2010) e Casa da Memória Negra de Salto (2016), que compõem esta mostra fazendo um panorama de sua filmografia e contribuição para preservar e manter a cultura e a memória da população negra brasileira viva e pulsante.

Data 14/10/2023

Horário 15h

Local: CINEMATECA

Filmes

Família Alcântara

Família Alcântara é um encontro íntimo com uma família extensa, que forma um grupo de aproximadamente 70 pessoas cujas origens remetem-se à bacia do Rio Congo, no continente africano.
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Mulheres Bordadas – Fios do Passado

Documentário que aborda aspectos da história e da subjetividade de mulheres negras na cidade paulista de Salto.
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Eu tenho a palavra

“Eu tenho a palavra” é uma viagem linguística em busca das origens africanas da cultura brasileira. O antigo reino do Congo foi a origem da maioria dos africanos escravizados no Brasil que, no cativeiro, criaram diversos dialetos para que pudessem se comunicar livremente.
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Balé de Pé no Chão - A Dança Afro de Mercedes Baptista

O documentário acompanha a singular trajetória de Mercedes Baptista, considerada a principal precursora da dança afro-brasileira.
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Casa da Memória Negra de Salto - projeto experimental de documentário de ocupação

“Casa da Memória Negra de Salto - projeto experimental de documentário de ocupação” é parte integrante da Tese de Doutorado em andamento de Lilian Solá Santiago.
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